sábado, 21 de dezembro de 2013

A Fábrica Encantada




Clown era um palhacinho de pano muito bonitinho e colorido. Tinha as bochechas bem rosadas e o nariz e a boca bem pintados de vermelho. Suas roupas tinham mais cores do que o arco-íris, e seus cabelos eram feitos de uma lã bem alaranjada. Era um brinquedo bem encantador.  Clown só tinha um defeito, era antigo demais. Ele estava naquela família já há muitas gerações, a Tataravó Dita o havia construído e desde então ele passava de mão em mão, de pai pra filho.
Um dia, Clown foi para as mãos de Pedro, quando este acabara de fazer sete anos. Foi amor à primeira vista.
Por onde  Pedro ia, fazia questão de levar Clown junto. Se ele ia jantar, o palhacinho tinha um lugar à mesa; se ia para a escola, Clown ia escondido no fundo da mochila; se ia viajar, Clown certamente ia junto. E assim o tempo foi passando, até Pedro completar nove anos. Agora o garoto tinha outros amigos, humanos como ele, com quem Pedro passava as tardes jogando videogame, futebol e irritando as meninas. Percebendo que havia sido substituído, Clown se retirou tristemente para uma prateleira esquecida.
Tempo se passou e Pedro completou dez anos. Sua madrinha lhe presenteou com um boneco de ação, daqueles que vem com armas e uma roupa camuflada, Pedro ficou tão empolgado com o boneco novo que passou a tarde toda brincando com ele, nomeando-o seu novo brinquedo favorito. Naquela mesma noite, enquanto Pedro dormia, o boneco de ação recebeu todas as atenções dos outros brinquedos. Todos estavam admirados com a quantidade de acessórios que ele carregava. Clown, enciumado, gritou do alto da prateleira:
- Se gabe enquanto pode, o dia em que você ficar velho vai estar nessa prateleira junto comigo!
O boneco, sem nenhum tipo de rancor ou zombaria pelo comentário feito por Clown, respondeu:
- Ué, por que você não vai até a Fábrica Encantada?
- Fábrica Encantada? Nunca ouvi falar! – disse Clown.
- Ora, nunca ouviu falar? É por isso que está reclamando, então! Lá na Fábrica eles consertam os brinquedos e os deixam novinhos! Depois te devolvem ao seu dono!
- Sério? Puxa, então eu devo ir pra lá agora mesmo! Tenho certeza de que se ficar novo em folha, Pedro vai voltar a brincar comigo!
- É fácil chegar lá – disse o boneco de ação – é só seguir em direção ao norte!
- Só isso?! Que simples!- exclamou Clown empolgado.
- Mas cuidado, viu! Você tem que estar lá antes do dia 24 do próximo mês, ou então só será entregue ano que vem!
- Então vou partir agora mesmo!
Clown pulou da prateleira e se dirigiu à janela aberta. Todos os outros brinquedos soltaram desejos de boa sorte, e assim, ele iniciou sua jornada.
Quando o Sol já estava a pino, Clown perguntou-se se ainda falta muito para chegar a tal Fábrica. Quando anoiteceu, achou que talvez devesse voltar pra casa, mas ficou cansado demais só de imaginar o caminho de volta, então foi adiante. No final da primeira semana, se arrependeu de não ter voltado enquanto podia, mas pensou em Pedro brincando com ele novamente, então continuou o caminho.
Na segunda semana ele pegou um barco, e quase foi destruído pelo cachorro do capitão, não fosse uma caixa de papelão que ele encontrou. Passou o resto da viagem nela. No início da terceira semana, o barco atracou e Clown voltou a caminhar em direção ao norte. Conforme ele andava, percebia que ficava mais frio e mais vazio, até o ponto em que já quase no final da quarta semana, ele se sentia em um deserto de gelo.
Foi quando encarou aquela paisagem cheia de neve e o céu escuro que Clown foi tomado por dúvidas, que geraram um medo enorme dentro dele. Será que ele havia sido enganado pelos outros bonecos? Será que essa tal fábrica existia mesmo? Ou será que ele havia tomado o caminho errado? Mas a pior de todas as perguntas que rodeavam sua cabeça era: Será que vou conseguir voltar pra casa? Assustado e confuso, Clown começou a chorar.
- O que houve? – perguntou uma voz feminina às costas de Clown – Por que está chorando?
Clown se virou e viu uma boneca de plástico com cabelos louros, em estado quase perfeito, não fosse pela falta da perna direita.
- Não houve nada! – respondeu enquanto limpava seu rosto, encabulado -  Só acho que estou perdido!
- Está indo pra Fábrica?
- Como sabe? – exclamou espantado.
- Ora, aonde mais se iria por aqui?! – respondeu ironicamente enquanto apontava para o deserto de neve.
- Tem razão! – Clown riu da própria ingenuidade.
- Meu nome é Elsa, se quiser, pode vir comigo! Também estou indo pra lá, uma criança arrancou minha perna então estou precisando ser consertada!
- Claro que vou com você! Me chamo Clown, e preciso de umas reformas também!
- Todos que vão à Fábrica precisam! Eu vou toda hora, não tem um ano em que não arranquem minha cabeça, braços ou pernas, já estou até acostumada!
Clown e Elsa conversaram durante todo o caminho, até que Elsa apontou em direção à uma cabana, toda iluminada e enfeitada. Foi a casa mais linda que Clown já havia visto em toda a sua vida.
- Uau! – exclamou admirado, enquanto se aproximavam da porta - Quem será que mora por aqui?
- Jura que você não sabe? – disse Elsa perplexa.
- Não, nunca vim aqui antes!
- Mas não precisa ter vindo aqui para saber, até os humanos sabem! É o...
Neste momento, Elsa foi interrompida. A porta se abriu e um senhor de barba branca bem comprida e roupas vermelhas saiu de dentro da cabana.
- Chegaram bem na hora! - disse de bom –humor – eu ia partir daqui há duas horas! Vamos, entrem, entrem! Está frio demais aqui fora!
Clown ficou mudo perante aquela figura. Ele sabia quem ele era, mas apesar de ser um brinquedo, nunca achou que ele realmente existisse.
- Elsa, - continuou o bom velhinho – Vou começar a achar que você arranca suas pernas de propósito só pra vir me ver, ho, ho, ho! Todo o ano você vem aqui!
- Não é minha culpa que as crianças de hoje não saibam brincar, Noel!
Noel foi até uma gaveta e procurou por uma perna direita. Assim que encontrou, colocou em Elsa.
- Seu amigo não é de falar muito não é?! – observou enquanto colocava a perna em Elsa – O gato comeu sua língua, Clown?
- Sabe meu nome?! – Clown de repente esqueceu-se de seu constrangimento perante aquela figura lendária.
- Ho,ho,ho! Claro que eu sei! Sei o nome de todos os brinquedos e crianças do mundo, meu caro! – virou- se pra Elsa- Pronto querida, novinha em folha! Já pode voltar ano que vem!
Elsa riu e prometeu que voltaria.
- Tchau Clown, - despediu-se do novo amigo – espero te ver de novo também!
- Também espero! Só espero que não esteja com nada arrancado quando isso acontecer!
Elsa, Clown e Noel riram. Elsa despediu-se novamente e entrou na grande sacola vermelha, aonde milhares de brinquedos esperavam para chegar às suas casas.
Bem- começou Noel, dirigindo-se à Clown - e agora, que faremos com você?
- Quero que me conserte, Papai Noel!
Noel o examinou de cima a baixo, por fim disse:
- Consertar? Consertar o que? Não vejo nada de errado! Nem um rasgo ou defeito...você está muito bem cuidado, amigo!
- Mas sou um boneco antigo! – insistiu - e meu dono não quer mais brincar comigo! Se você puder me deixar mais novo, tenho certeza de que Pedro vai querer brincar comigo de novo!
Noel olhou seriamente para Clown e depois de alguns segundos sorriu bondosamente.
- Venha comigo, Clown! Vamos levar os outros brinquedos pra casa, e você também!
- Mas, você não vai me consertar? – espantou-se o boneco.
- Apenas confie em mim e vamos embora!
Clown não teve outra alternativa senão obedecer. Acompanhou Noel durante toda a noite. Quando o último brinquedo foi entregue, Noel levou Clown para casa, antes de descer do trenó, Clown hesitou, receoso.
- Não precisa ter medo – disse Noel – Pedro está esperando por você! Fique embaixo da árvore e verá que eu tenho razão!
Clown concordou com a cabeça e fez o que Noel mandou.  Ele o viu indo embora pela janela, sendo puxado pelas renas. Quando já estava bem alto, Clown o ouviu gritar:
- Feliz Natal, Clown!
Clown sorriu e esperou ansiosamente até o amanhecer.
- Toda essa viagem foi pra nada – pensou consigo mesmo- continuo igual à antes! Será que o Papai Noel está certo? Será que Pedro vai me querer? Mas se ele não me queria antes, por que vai me querer agora?
De repente Clown ouve passos se dirigindo à sala. É Pedro correndo para ver o que Papai Noel havia deixado embaixo da árvore. Ele abriu um sorriso enorme e seus olhos se iluminaram quando viu que era Clown quem estava lá.
- Mamãe, você o encontrou! Nem acredito! - Pedro correu em direção ao boneco e o abraçou – Achei que tinha te perdido! Que bom que o achamos!
Clown ficou tão feliz, era até difícil de acreditar! Pedro o estava abraçando de novo. E não foi só naquele momento, Pedro ficou com ele durante todo o dia, e a noite, o deixou em sua mesa de cabeceira. No dia seguinte, tudo ocorreu da mesma forma, e nos dias seguintes também. Papai Noel estava certo – pensou o boneco – Pedro sentiu minha falta!

            Ás vezes esquecemos o quanto algo ou alguém é importante, por que ela está sempre ao nosso lado. Só quando percebemos que a perdemos que sentimos sua falta, e Noel sabia que era esse o problema entre Clown e Pedro. Por isso, se algum de vocês tiver alguém que lhes é importante e nunca lhes disse, diga hoje, agora se possível. Pedro aprendeu, e agora nunca mais deixa Clown na prateleira esquecida.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Nostalgia



Uma coisa curiosa sobre a nostalgia é a capacidade de romantizar o nosso passado. Os momentos reavidos em nossa mente são apenas os bons, aqueles momentos felizes e cheios de cor! Os ruins e cinzentos  até surgem de vez em quando,  mas esses, ah esses são extramamente amenizados e acorbetados por esse sentimento de saudade daquilo que costumávamos ser e ter.

Pude perceber isso melhor quando um evento recente em minha vida me fez voltar um pouco ao passado, lá pros inícios da minha adolescência. Duas pessoas que costumavam ser extremamente importantes pra mim naquela época tomaram meus pensamentos. Obviamente, nós não nos falamos mais - ao menos, não da forma como nos falávamos - , e eu me perguntei qual teria sido o motivo deles terem se distanciado, e principalmente, o motivo de eu  ter aceitado essa distância, já que eu os julgava as duas pessoas que envelheceriam ao meu lado. A busca para essas respostas  não demorou muito, bastou dar algumas olhadas em e-mails antigos, as últimas conversas, cartas e bilhetes para saber o que havia acontecido entre a gente: mágoas acumuladas.

Não sou uma expert quando se trata de psicologia, nem sequer li algum livro a respeito, mas penso que quando alguém acumula muita mágoa, raiva e decepção dentro de si, pode acabar gerando um distanciamento automático da pessoa que gerou esses sentimentos. Pois é, foi exatamente isso o que houve. De ambas as partes.

Como poderia se evitar esse tipo de situação? Afinal, eram as pessoas mais importantes para mim na época! Como pude deixar isso acontecer? O momento em que fomos verdadeiros um com o outro foi o momento em que percebemos o quanto estávamos machucados!

Mas isso não é só privilégio meu, todo mundo passa ou já passou  por isso( e quem não passa nem passou, certamente passará)! Às vezes ficamos queitos para não brigar por besteira, ou  por que pensamos que é besteira mesmo, mas na verdade aquilo incomoda. Dai pra frente é como uma bexiga sendo enchida vagarosamente, vai enchendo, enchendo, até que estoura. (Não pensem que roguei uma praga quando disse que quem não passou por essa situação certamente passará, na verdade eu apenas coloquei dessa forma por que faz parte do ser humano. Não conheço ninguém que não engula alguns sapos de vez em quando em nome de uma convivência harmoniosa.)

A bola de neve que se forma e cria dentro da gente essa vontade de se afastar é devastadora, e muitas vezes permanente. Será que tem um jeito de pará-la? Uma solução - muitos diriam- seria sempre dizer quando algo nos incomoda! Mas até que ponto isso seria uma solução? Nossa intolerância natural para com os defeitos e manias dos outros provavelmente nos faria viver isoladamente, já que todas as pessoas tem prós e contras (incluindo eu, você e quem mais quer que seja!). Talvez o mais sensato  seja buscar aceitar a pessoa como ela é! Mas não aquela aceitação falsa, que diz que apesar de dizer que aceita, na verdade sente pontadas na alma, aguentando tudo, calada pela hipocrisia. Não! Eu falo de uma aceitação sincera! Muitos falam de se colocar no lugar da pessoa, mas a maioria faz esse exercício se esquecendo que a pessoa age, pensa e sente diferente. É um tipo de exercício que exige auto-conhecimento e sensibilidade apurada. Ou seja, quase impossível de ser feito e só grandes almas são capazes de exercer!

É, parece que não tem jeito! Sempre vamos acabar magoando alguém e alguém sempre vai acabar nos magoando. Faz parte dos relacionamentos, sejam eles quais forem. Bem, mesmo sem saber como evitar, existe sempre uma forma de consertar - ou pelo menos tentar - , e vai ver que é por isso que eu goste desse sentimento nostálgico que bate às vezes. A gente revive aquelas cenas dando valor só as coisas que realmente importavam! E quanto aos pequenos incômodos que geraram a briga...bem, como eu disse eles voltam na memória também, e voltam exatamente como eles são, pequenos.

E-mails de reconciliação enviados.

domingo, 22 de setembro de 2013

Bonequinha



O que fazer com você, bonequinha?
Não é linda o suficiente para ser vendida
Não é esperta o bastante para ser ouvida
O que fazer com você, bonequinha?

Seus dias de glória nunca vieram
Ninguém mais te quer por perto
Os amigos ja cansaram
O seu futuro é incerto

O que fazer com você, bonequinha?
Sua roupa nem é assim tão bonita
Que fazer, que fazer?
Ninguém vai te querer!





sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O último suspiro


Eu não poderia mais suportar. Lutei de todas as formas que sabia e pensei que havia me feito vitorioso dessa batalha. Pensei que colocariam em meu túmulo "Aqui Jaz Adam, o homem que lutou até o fim!". Quanta besteira!
Deixei de lado todas as minhas convições, minha honra, tornei-me egoísta e mesquinho, e para que? Apenas para desfrutar de uma vitória momêntanea e superficial. Mas se eu não tivesse feito esse trabalho sujo, tenho certeza que alguém mais o teria, e talvez não tivesse sido alguém cheio de tão boas intenções quanto eu. Estou me enganando, não haviam boas intenções, ao menos não para outra pessoa que não fosse eu mesmo. Se agora, neste último momento, eu me arrependo do que fiz? Sim, mais do que ninguém! Se eu voltaria atrás? Não, nunca, mas assumo a responsabilidade de suas consequências!

- Quem pegou os suspiros que eu trouxe da padaria? Adam, foi você?

- De jeito nenhum!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Encontro






Aconteceu em um dia comum. Estava sentado na poltrona, de frente para a janela que dava para o jardim, observando o céu que não estava totalmente nublado e nem totalmente limpo. Não haviam pensamentos e minha cabeça divagava junto com a brisa do vento. Foi quando ouvi sua voz, tão parecida com a minha:

- Pare com isso!

Eu não me assustei, eu sabia quem era.

- Eu queria parar, só não sei como! - respondi. 

- Sabe sim, só tem medo de fazê-lo!

Sua resposta me atingiu como um tapa. É verdade, eu realmente tinha medo, não queria fazer o que tinha que fazer por medo das consequências.

- Não tenha medo, eu vou ficar do seu lado!

- Vai mesmo? -perguntei contendo um choro de vergonha.

Senti que ele me abraçava, senti sua preocupação sincera, senti todo o seu amor infinito naquele simples abraço. Minhas resistências foram embora, e afinal, por quê estava resistindo? Chorei.

-  Vai ficar tudo bem, de verdade! 

- Eu sei! -respondi com sinceridade. Sorri levemente enquanto enxugava meu rosto, molhado pelas minhas lágrimas- Por que demorou tanto para vir?

- Não demorei para vir, você que demorou para me ouvir!

Senti beijar-me a testa, mas ele não se despediu e tampouco foi embora. Ele nunca irá embora na verdade, e agora eu sei disso.




quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Rainha da Chuva e o Príncipe do Trovão.


No alto dos céus, em uma nuvem cinza, existia um palácio feito de cúmulus, vento e água. Era nesse palácio que residia a Rainha da Chuva e todo o seu reino. Apesar do clima naquela nuvem cinzenta ser frio e úmido, seus habitantes viviam em alegria e adoravam festejar. Existia uma celebração que eles aguardavam com ansiedade: o dia em que a Rainha iria abrir a grande comporta do palácio e despejar água na terra. Esse dia específico era conhecido como a Celebração da Chuva.
A Celebração da Chuva era comemorada da seguinte forma: a parte da manhã se passava comendo, mas nada se bebia - para simbolizar a água poupada para a chuva. - , à tarde entravam os músicos e uma dança de roda em volta da grande compota era formada por todos os habitantes do reino. Somente no meio da música a Rainha da Chuva aparecia dirigindo-se ao centro da roda e abria a comporta. Os habitantes permaneciam dançando e cantando até que a água acumulada tivesse se dirigido totalmente para a terra. O resto da comemoração se passaria comendo, bebendo e dançando, como todas as festividades devem ser.
Aquela prometia ser uma grande Celebração da Chuva. Já havia muito tempo que não era comemorada e a grande comporta quase transbordava de tanta água acumulada. Os habitantes do reino estavam empolgados e preparavam tudo com animação e cantoria. Mesmo a Rainha da Chuva estava nervosa para a Celebração.
Quando tudo estava em seu lugar, a festividade deu-se início. Primeiro os comes, sem os bebes. Tudo dentro dos conformes. Foi somente quando a dança teve seu começo que viu-se uma luz forte seguida de um barulho tão alto que os habitantes se esconderam e a festa foi interrompida. A Rainha, em seu total poder, foi procurar a origem do problema. Ela se dirigiu para a parte mais alta da torre e chegando na janela pode avistar um jovem em uma nuvem, tocando uma espécie de tambor tão grande que chegava a ser o dobro de tamanho do palácio da Rainha. A luz, a Rainha observou, tinha origem no atrito das duas nuvens - da dela e da dele - , cada vez que se encostavam, a luz aparecia.

- Senhor, com sua licença! - disse a Rainha com voz poderosa. O jovem olhou para ela. - Perdoe-me, mas pode me dizer qual o motivo de ter-se enganchado na minha nuvem e atrapalhado minha festa?
O jovem da nuvem sorriu e lhe fazendo uma grande reverência respondeu:
- Perdão digo eu, senhorita Rainha! Sou o Príncipe do Trovão e estava tratando de meus negócios quando um vento muito forte me arrastou para a sua nuvem. Infelizmente elas se prenderam e não sei se há um jeito de soltá-las!
- Tem que haver!- desesperou-se a Rainha - meu povo espera por esse festival há muito tempo!
O Príncipe pensou e depois de um tempo disse para a Rainha.
- Tentemos o seguinte: Eu vou puxar minha nuvem desse lado e você chama um criado para puxar do seu lado. Desse jeito, creio eu, conseguiremos nos soltar.
A Rainha concordou e assim foi feito. O jovem mais forte do reino foi colocado de um lado da nuvem, e o Príncipe do Trovão ficou do outro lado, na contagem do "3" os dois puxaram a nuvem. Saíram diversos raios, mas nada das nuvens se soltarem. Tentou-se mais duas vezes, até que a Rainha e o Príncipe mudassem de estratégia.
- E se... - começou a Rainha - você fizesse muito barulho com aquele seu tambor. Talvez a vibração do som faça as nuvens se soltarem!
O Príncipe concordou. Subiu de volta para o tambor e tocou tão alto quanto pode, porém, nenhuma nuvem se moveu.
Naquela altura, os habitantes já estavam se divertindo com o acontecimento, e foi de comum acordo que se deixasse a história de separar as nuvens de lado e a festa desse prosseguimento. A Rainha e o Príncipe concordaram e a dança foi retomada. Quando a Rainha abriu a grande comporta, a água saiu aos montes, diminuindo o tamanho da nuvem e fazendo com que ela se desprendesse da nuvem do Príncipe.  Divertindo-se com a solução, os habitantes, a Rainha e o Príncipe comemoraram. Os habitantes pegaram pedaços de sua cúmulus e jogavam na do Príncipe, para que se formassem os raios. O Príncipe, por sua vez, foi até o tambor e tocou tão alto quanto pode; e logo se entrou numa brincadeira com os habitantes: cada vez que um raio era formado, ele tocava o tambor. A Rainha permaneceu com a comporta aberta, se divertindo com a cena.

Quando a água finalmente acabou, a Rainha e os habitantes fizeram o Príncipe prometer que voltaria sempre no dia da Celebração da Chuva. É por isso que hoje em dia, sempre que começa a chover na terra, podem-se ver raios, seguidos por trovões.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Um trecho de qualquer coisa...





Sentado naquele bar, ele se sentia confuso e levemente tonto com tantas misturas de luzes e sons.  Era um ambiente novo para ele. A bagunça o estava deixando enjoado e ele sentia um refluxo vindo a qualquer momento. “Foco!”- disse em voz baixa e desesperada – “Você só precisa focar em alguma coisa!”. Seus olhos, então, saíram em busca de um foco, e esse foco caiu justamente em uma garota bem à sua frente. Ela dançava sozinha, ou era o que parecia. Estava de olhos fechados e deixava-se levar por todos os sons que tocavam. Henrique era capaz de sentir toda a liberdade que aquela garota emanava. Talvez o motivo dessa liberdade estivesse em seus cabelos soltos e compridos, talvez estivesse na sua saia de tecido leve ou em seu sorriso permanente; fosse o que fosse, era como se nada a incomodasse, como se não tivesse nenhum problema, nenhuma trava social. Era um sonho.
 Parecia que ele a estava observando há dias, até ela também virar seus olhos para ele.  O coração de Henrique parou, era a própria vida o encarando. Ela se aproximou e com uma expressão dura na face, sem dizer nenhuma palavra, ela o beijou. Um beijo ávido, cheio de desejo. Um beijo que Henrique jamais vivenciou em toda a sua vida até aquele momento. Quando enfim conseguiu abrir os olhos, ela já havia ido embora.  Em um movimento brusco ele levantou-se do bar e foi procurar por aquela misteriosa garota na pista de dança. Se jogou por aqueles corpos que antes o assustavam, mas que agora nada significavam para ele. Precisava encontra-la, precisava vê-la de novo, precisava saber ao menos o seu nome para ter certeza de que não tinha sonhado.
Passou quase toda a noite procurando pelo hotel e nada.  Ela simplesmente havia desaparecido. “Não pode ter sido um sonho!”- repetia a si mesmo, ainda sentindo o gosto daquele beijo em sua boca. Aquele beijo cheio de vida que ele ansiava sentir novamente.  Procurou mais uma vez, perguntando aos funcionários do hotel se haviam visto alguma mulher com tal descrição. Nada. Cansado e entorpecido pelo dia e noite que tivera, Henrique se rendeu, desistiu de sua busca e voltou para o seu quarto.
Durante toda a noite – que parecia ao mesmo tempo longa e curta demais - ele se remexeu na cama tentando adormecer.  Sua mente fervilhava e seu coração ainda estava disparado, não conseguia parar de pensar naquela mulher livre e sedutora que o beijara. Por que o beijara? O que ela havia visto nele? Por que tinha ido embora sem nem dizer seu nome? Porque ele não conseguia encontra-la de novo? O despertador toca, já eram 6 horas da manhã! Já?! Tudo isso de tempo já havia se passado?! Com dor de cabeça, ele se levantou e foi tomar um banho.
 Henrique só foi capaz de perceber que alguma coisa estava realmente errada com ele quando passou o condicionador no cabelo antes do shampoo. Depois deixou o sabonete cair inúmeras vezes no chão. “O que está havendo comigo hoje?!”- pensava enquanto achava graça em tudo aquilo. Na hora em que foi fazer a barba, sua mão tremeu tanto que acabou fazendo vários cortes em seu rosto.

Enquanto limpava o sangue do último corte de sua barba, Henrique se olhou no espelho por alguns instantes. Encarou com bastante atenção a sua figura cheia de curativos no rosto e com olheiras pela noite não dormida. Começou a rir de si mesmo, quase gargalhando. Foi invadido por uma felicidade tamanha , e mesmo sem saber de onde tal felicidade se originara, dançou e cantou pelo banheiro.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nem tudo





Nem tudo está perdido
E nem tudo foi largado
Jamais será esquecido
Mesmo achando que está abandonado

Nem tudo se pode evitar
Quase nunca se deve impedir
Aprender a chorar
É a melhor forma de aprender a sorrir

Não saia do caminho
Nem abandone sua alma
Veja que há espinhos na rosa
Sorria por haver rosas nos espinhos.






quinta-feira, 18 de julho de 2013

E-mails

Dele para Ela:


Olá! Devo dizer que me interessei muito pelo seu perfil. Normalmente eu evito mulheres que bebem demais, mas gostei do seu humor. Podemos nos conhecer melhor?


Dela para Ele:

Fico feliz que meu perfil tenha te agradado, graças a deus ele tem feito muito sucesso por aqui. Se o fato de eu beber te incomoda surgiro para que seu conhecimento sobre mim termine por aqui. Tá ai uma coisa que jamais deixarei de fazer: beber.


Dele para Ela:

Sinto muito se te ofendi, não foi minha intenção.


Dela para Ele

Bem que você queria, mas não me ofendeu não.


Dele para Ela

Por que diz que eu queria?


Dela para Ele:

Porque senão não teria  dito que gostou de mim "apesar disso" -  o fato de eu beber - , você diz que mesmo com todas as minhas qualidades, um defeito meu está exaltado. A partir do momento que você expõe um defeito meu para mim, está procurando me ofender. Por isso eu disse "bem que você queria"!


Dele para Ela:

Se acha que beber é um defeito, deveria parar. Faz mal pra saúde!


Dela para Ele

Não acho que beber seja um defeito.


Dele para Ela

Então por que disse que era? Tá ficando tudo confuso agora! rs


Dela para Ele

Para você é um defeito, para mim não. Defeito para mim é outra coisa.


Dele para Ela

E o que é um defeito pra você?


Dela para Ele

Gente que determina o caráter de alguém pelos seus vícios ou problemas!


Dele para Ela

Você é alcóolotra?


Dela para Ele

Você é egocêntrico?


Dele para Ela

Não entendi!


Dela para Ele

Porque acha que minha colocação de defeito se refere à mim ou a você! Beber não é um vícío ou problema pra mim, apenas coloquei que considero isso como defeito e ponto.


Dele para Ela

Rs, entendi! Achei que se referia à mim! Vamos começar de novo, ok?! Oi, tudo bom? Adorei seu perfil e gostaria de te conhecer melhor. Vi que você bebe, eu não tenho o hábito de beber, espero que isso não seja um problema para você!


Dela para Ele

Não tenho preconceitos!





Continua....(eu acho)

sábado, 15 de junho de 2013




Não fique triste assim
Não jogue fora a chave do seu quarto
Me deixe descobrir
Seu pensamento atormentado

Não tenha vergonha de dizer
Tudo o que te incomoda
Quem poderá saber
Se deixar todos irem embora?

Não fuja e fique!
Não se cale, grite!
Tente entender
Que estarei aqui para você

Seus fantamas irão chegar
Por mais que você mude seu caminho
Você terá que os enfrentar
Mas não estará sozinho

Senão quiser me escutar
Se do quarto não quiser sair
Me deixe entrar
E eu ficarei aqui

domingo, 21 de abril de 2013

Parede



Talvez seja esse espírito que eu tenho
Ou talvez seja simplesmente o medo
De qualquer forma, sou assim
Não me aproximo e não me afasto
A distancia segura que preciso
Que não me deixa triste nem feliz

Talvez seja porque se aproximam rápido demais
Ou demasiado lento
Seja minha falta de interesse ou a sua
Eu fico quieta
Eu ajo por mim mesma

Critiquem, digam o que quiserem
Eu gosto de ser como eu sou
Se me acusam
Foi porque não souberam derrubar a parede que há em mim
E que eu mesma construí









domingo, 7 de abril de 2013







Meu choro cai involuntariamente
Cai até sem que eu tenha vontade de chorar
E corrói como aguardente
E fere como quem tem vontade de matar

Eu não tenho colo pra deitar
Não tem ninguém por perto
Afastei qualquer um que pudesse me escutar
Para proteger meu coração incerto

E agora é só escuridão
Está do jeito que eu queria
Mas ainda caem lágrimas em minhas mãos
E isso eu não previa...

quarta-feira, 20 de março de 2013



O que o tempo me deixou foram marcas
Cicatrizes de quem lutou, sem jamais almejar ganhar
Apenas viver

E as marcas permanecem, mas não atrapalham o meu sorriso
As cicatrizes não doem quando tocadas
Meus olhos ainda mantêm o brilho de uma esperança infantil.

Eu vivo sem me arrepender, sem me lamentar
Por que as lutas, ah essas lutas
Foram feitas para serem perdidas

E se me perguntam o motivo, eu respondo
É a vida
E não há motivo no mundo melhor do que esse.



terça-feira, 12 de março de 2013

Novamente....









Se eu soubesse o que entre nós aconteceria
Eu teria tido calma, sabendo que em meu coração acelerado
Uma calma se apoderaria

Se eu soubesse o que seria
Não deixaria meu sentimento calado
E talvez mais cedo esse amor aconteceria

No entanto, tudo aconteceu como foi predestinado
E quem sou pra definir o que eu teria
No meu coração tão machucado, fez de mim o que queria

E se agora eu sorrio sem motivo confessado
Guardo em mim esse segredo, para que quando tudo estiver solucionado
Todos saberão a razão do meu súbito contetamento

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Amor de Verão



Você chegou como um furacão
Um vendaval em pleno o verão
Eu não sabia o que podia ser
Ninguém esperava por você

E fez meu dia mais alegre
Fez do meu sorriso o mais sincero
Da minha calmaria, a febre
Do meu olhar o mais honesto

E como veio, já se vai
Tentando não deixar vestígios de quem ama
Como a leve garoa que cai
E não molha a terra por baixo da grama