segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Um trecho de qualquer coisa...





Sentado naquele bar, ele se sentia confuso e levemente tonto com tantas misturas de luzes e sons.  Era um ambiente novo para ele. A bagunça o estava deixando enjoado e ele sentia um refluxo vindo a qualquer momento. “Foco!”- disse em voz baixa e desesperada – “Você só precisa focar em alguma coisa!”. Seus olhos, então, saíram em busca de um foco, e esse foco caiu justamente em uma garota bem à sua frente. Ela dançava sozinha, ou era o que parecia. Estava de olhos fechados e deixava-se levar por todos os sons que tocavam. Henrique era capaz de sentir toda a liberdade que aquela garota emanava. Talvez o motivo dessa liberdade estivesse em seus cabelos soltos e compridos, talvez estivesse na sua saia de tecido leve ou em seu sorriso permanente; fosse o que fosse, era como se nada a incomodasse, como se não tivesse nenhum problema, nenhuma trava social. Era um sonho.
 Parecia que ele a estava observando há dias, até ela também virar seus olhos para ele.  O coração de Henrique parou, era a própria vida o encarando. Ela se aproximou e com uma expressão dura na face, sem dizer nenhuma palavra, ela o beijou. Um beijo ávido, cheio de desejo. Um beijo que Henrique jamais vivenciou em toda a sua vida até aquele momento. Quando enfim conseguiu abrir os olhos, ela já havia ido embora.  Em um movimento brusco ele levantou-se do bar e foi procurar por aquela misteriosa garota na pista de dança. Se jogou por aqueles corpos que antes o assustavam, mas que agora nada significavam para ele. Precisava encontra-la, precisava vê-la de novo, precisava saber ao menos o seu nome para ter certeza de que não tinha sonhado.
Passou quase toda a noite procurando pelo hotel e nada.  Ela simplesmente havia desaparecido. “Não pode ter sido um sonho!”- repetia a si mesmo, ainda sentindo o gosto daquele beijo em sua boca. Aquele beijo cheio de vida que ele ansiava sentir novamente.  Procurou mais uma vez, perguntando aos funcionários do hotel se haviam visto alguma mulher com tal descrição. Nada. Cansado e entorpecido pelo dia e noite que tivera, Henrique se rendeu, desistiu de sua busca e voltou para o seu quarto.
Durante toda a noite – que parecia ao mesmo tempo longa e curta demais - ele se remexeu na cama tentando adormecer.  Sua mente fervilhava e seu coração ainda estava disparado, não conseguia parar de pensar naquela mulher livre e sedutora que o beijara. Por que o beijara? O que ela havia visto nele? Por que tinha ido embora sem nem dizer seu nome? Porque ele não conseguia encontra-la de novo? O despertador toca, já eram 6 horas da manhã! Já?! Tudo isso de tempo já havia se passado?! Com dor de cabeça, ele se levantou e foi tomar um banho.
 Henrique só foi capaz de perceber que alguma coisa estava realmente errada com ele quando passou o condicionador no cabelo antes do shampoo. Depois deixou o sabonete cair inúmeras vezes no chão. “O que está havendo comigo hoje?!”- pensava enquanto achava graça em tudo aquilo. Na hora em que foi fazer a barba, sua mão tremeu tanto que acabou fazendo vários cortes em seu rosto.

Enquanto limpava o sangue do último corte de sua barba, Henrique se olhou no espelho por alguns instantes. Encarou com bastante atenção a sua figura cheia de curativos no rosto e com olheiras pela noite não dormida. Começou a rir de si mesmo, quase gargalhando. Foi invadido por uma felicidade tamanha , e mesmo sem saber de onde tal felicidade se originara, dançou e cantou pelo banheiro.

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