Sentado naquele bar, ele se sentia confuso e levemente tonto
com tantas misturas de luzes e sons. Era
um ambiente novo para ele. A bagunça o estava deixando enjoado e ele sentia um
refluxo vindo a qualquer momento. “Foco!”- disse em voz baixa e desesperada – “Você
só precisa focar em alguma coisa!”. Seus olhos, então, saíram em busca de um
foco, e esse foco caiu justamente em uma garota bem à sua frente. Ela dançava
sozinha, ou era o que parecia. Estava de olhos fechados e deixava-se levar por
todos os sons que tocavam. Henrique era capaz de sentir toda a liberdade que
aquela garota emanava. Talvez o motivo dessa liberdade estivesse em seus
cabelos soltos e compridos, talvez estivesse na sua saia de tecido leve ou em
seu sorriso permanente; fosse o que fosse, era como se nada a incomodasse, como
se não tivesse nenhum problema, nenhuma trava social. Era um sonho.
Parecia que ele a
estava observando há dias, até ela também virar seus olhos para ele. O coração de Henrique parou, era a própria
vida o encarando. Ela se aproximou e com uma expressão dura na face, sem dizer nenhuma
palavra, ela o beijou. Um beijo ávido, cheio de desejo. Um beijo que Henrique
jamais vivenciou em toda a sua vida até aquele momento. Quando enfim conseguiu
abrir os olhos, ela já havia ido embora. Em um movimento brusco ele levantou-se do bar
e foi procurar por aquela misteriosa garota na pista de dança. Se jogou por
aqueles corpos que antes o assustavam, mas que agora nada significavam para
ele. Precisava encontra-la, precisava vê-la de novo, precisava saber ao menos o
seu nome para ter certeza de que não tinha sonhado.
Passou quase toda a noite procurando pelo hotel e nada. Ela simplesmente havia desaparecido. “Não
pode ter sido um sonho!”- repetia a si mesmo, ainda sentindo o gosto daquele
beijo em sua boca. Aquele beijo cheio de vida que ele ansiava sentir novamente.
Procurou mais uma vez, perguntando aos
funcionários do hotel se haviam visto alguma mulher com tal descrição. Nada. Cansado
e entorpecido pelo dia e noite que tivera, Henrique se rendeu, desistiu de sua
busca e voltou para o seu quarto.
Durante toda a noite – que parecia ao mesmo tempo longa e
curta demais - ele se remexeu na cama tentando adormecer. Sua mente fervilhava e seu coração ainda
estava disparado, não conseguia parar de pensar naquela mulher livre e sedutora
que o beijara. Por que o beijara? O que ela havia visto nele? Por que tinha ido
embora sem nem dizer seu nome? Porque ele não conseguia encontra-la de novo? O
despertador toca, já eram 6 horas da manhã! Já?! Tudo isso de tempo já havia se
passado?! Com dor de cabeça, ele se levantou e foi tomar um banho.
Henrique só foi capaz
de perceber que alguma coisa estava realmente errada com ele quando passou o
condicionador no cabelo antes do shampoo. Depois deixou o sabonete cair
inúmeras vezes no chão. “O que está havendo comigo hoje?!”- pensava enquanto
achava graça em tudo aquilo. Na hora em que foi fazer a barba, sua mão tremeu
tanto que acabou fazendo vários cortes em seu rosto.
Enquanto limpava o sangue do último corte de sua barba,
Henrique se olhou no espelho por alguns instantes. Encarou com bastante atenção
a sua figura cheia de curativos no rosto e com olheiras pela noite não dormida.
Começou a rir de si mesmo, quase gargalhando. Foi invadido por uma felicidade
tamanha , e mesmo sem saber de onde tal felicidade se originara, dançou e
cantou pelo banheiro.
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