quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Rainha da Chuva e o Príncipe do Trovão.


No alto dos céus, em uma nuvem cinza, existia um palácio feito de cúmulus, vento e água. Era nesse palácio que residia a Rainha da Chuva e todo o seu reino. Apesar do clima naquela nuvem cinzenta ser frio e úmido, seus habitantes viviam em alegria e adoravam festejar. Existia uma celebração que eles aguardavam com ansiedade: o dia em que a Rainha iria abrir a grande comporta do palácio e despejar água na terra. Esse dia específico era conhecido como a Celebração da Chuva.
A Celebração da Chuva era comemorada da seguinte forma: a parte da manhã se passava comendo, mas nada se bebia - para simbolizar a água poupada para a chuva. - , à tarde entravam os músicos e uma dança de roda em volta da grande compota era formada por todos os habitantes do reino. Somente no meio da música a Rainha da Chuva aparecia dirigindo-se ao centro da roda e abria a comporta. Os habitantes permaneciam dançando e cantando até que a água acumulada tivesse se dirigido totalmente para a terra. O resto da comemoração se passaria comendo, bebendo e dançando, como todas as festividades devem ser.
Aquela prometia ser uma grande Celebração da Chuva. Já havia muito tempo que não era comemorada e a grande comporta quase transbordava de tanta água acumulada. Os habitantes do reino estavam empolgados e preparavam tudo com animação e cantoria. Mesmo a Rainha da Chuva estava nervosa para a Celebração.
Quando tudo estava em seu lugar, a festividade deu-se início. Primeiro os comes, sem os bebes. Tudo dentro dos conformes. Foi somente quando a dança teve seu começo que viu-se uma luz forte seguida de um barulho tão alto que os habitantes se esconderam e a festa foi interrompida. A Rainha, em seu total poder, foi procurar a origem do problema. Ela se dirigiu para a parte mais alta da torre e chegando na janela pode avistar um jovem em uma nuvem, tocando uma espécie de tambor tão grande que chegava a ser o dobro de tamanho do palácio da Rainha. A luz, a Rainha observou, tinha origem no atrito das duas nuvens - da dela e da dele - , cada vez que se encostavam, a luz aparecia.

- Senhor, com sua licença! - disse a Rainha com voz poderosa. O jovem olhou para ela. - Perdoe-me, mas pode me dizer qual o motivo de ter-se enganchado na minha nuvem e atrapalhado minha festa?
O jovem da nuvem sorriu e lhe fazendo uma grande reverência respondeu:
- Perdão digo eu, senhorita Rainha! Sou o Príncipe do Trovão e estava tratando de meus negócios quando um vento muito forte me arrastou para a sua nuvem. Infelizmente elas se prenderam e não sei se há um jeito de soltá-las!
- Tem que haver!- desesperou-se a Rainha - meu povo espera por esse festival há muito tempo!
O Príncipe pensou e depois de um tempo disse para a Rainha.
- Tentemos o seguinte: Eu vou puxar minha nuvem desse lado e você chama um criado para puxar do seu lado. Desse jeito, creio eu, conseguiremos nos soltar.
A Rainha concordou e assim foi feito. O jovem mais forte do reino foi colocado de um lado da nuvem, e o Príncipe do Trovão ficou do outro lado, na contagem do "3" os dois puxaram a nuvem. Saíram diversos raios, mas nada das nuvens se soltarem. Tentou-se mais duas vezes, até que a Rainha e o Príncipe mudassem de estratégia.
- E se... - começou a Rainha - você fizesse muito barulho com aquele seu tambor. Talvez a vibração do som faça as nuvens se soltarem!
O Príncipe concordou. Subiu de volta para o tambor e tocou tão alto quanto pode, porém, nenhuma nuvem se moveu.
Naquela altura, os habitantes já estavam se divertindo com o acontecimento, e foi de comum acordo que se deixasse a história de separar as nuvens de lado e a festa desse prosseguimento. A Rainha e o Príncipe concordaram e a dança foi retomada. Quando a Rainha abriu a grande comporta, a água saiu aos montes, diminuindo o tamanho da nuvem e fazendo com que ela se desprendesse da nuvem do Príncipe.  Divertindo-se com a solução, os habitantes, a Rainha e o Príncipe comemoraram. Os habitantes pegaram pedaços de sua cúmulus e jogavam na do Príncipe, para que se formassem os raios. O Príncipe, por sua vez, foi até o tambor e tocou tão alto quanto pode; e logo se entrou numa brincadeira com os habitantes: cada vez que um raio era formado, ele tocava o tambor. A Rainha permaneceu com a comporta aberta, se divertindo com a cena.

Quando a água finalmente acabou, a Rainha e os habitantes fizeram o Príncipe prometer que voltaria sempre no dia da Celebração da Chuva. É por isso que hoje em dia, sempre que começa a chover na terra, podem-se ver raios, seguidos por trovões.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Um trecho de qualquer coisa...





Sentado naquele bar, ele se sentia confuso e levemente tonto com tantas misturas de luzes e sons.  Era um ambiente novo para ele. A bagunça o estava deixando enjoado e ele sentia um refluxo vindo a qualquer momento. “Foco!”- disse em voz baixa e desesperada – “Você só precisa focar em alguma coisa!”. Seus olhos, então, saíram em busca de um foco, e esse foco caiu justamente em uma garota bem à sua frente. Ela dançava sozinha, ou era o que parecia. Estava de olhos fechados e deixava-se levar por todos os sons que tocavam. Henrique era capaz de sentir toda a liberdade que aquela garota emanava. Talvez o motivo dessa liberdade estivesse em seus cabelos soltos e compridos, talvez estivesse na sua saia de tecido leve ou em seu sorriso permanente; fosse o que fosse, era como se nada a incomodasse, como se não tivesse nenhum problema, nenhuma trava social. Era um sonho.
 Parecia que ele a estava observando há dias, até ela também virar seus olhos para ele.  O coração de Henrique parou, era a própria vida o encarando. Ela se aproximou e com uma expressão dura na face, sem dizer nenhuma palavra, ela o beijou. Um beijo ávido, cheio de desejo. Um beijo que Henrique jamais vivenciou em toda a sua vida até aquele momento. Quando enfim conseguiu abrir os olhos, ela já havia ido embora.  Em um movimento brusco ele levantou-se do bar e foi procurar por aquela misteriosa garota na pista de dança. Se jogou por aqueles corpos que antes o assustavam, mas que agora nada significavam para ele. Precisava encontra-la, precisava vê-la de novo, precisava saber ao menos o seu nome para ter certeza de que não tinha sonhado.
Passou quase toda a noite procurando pelo hotel e nada.  Ela simplesmente havia desaparecido. “Não pode ter sido um sonho!”- repetia a si mesmo, ainda sentindo o gosto daquele beijo em sua boca. Aquele beijo cheio de vida que ele ansiava sentir novamente.  Procurou mais uma vez, perguntando aos funcionários do hotel se haviam visto alguma mulher com tal descrição. Nada. Cansado e entorpecido pelo dia e noite que tivera, Henrique se rendeu, desistiu de sua busca e voltou para o seu quarto.
Durante toda a noite – que parecia ao mesmo tempo longa e curta demais - ele se remexeu na cama tentando adormecer.  Sua mente fervilhava e seu coração ainda estava disparado, não conseguia parar de pensar naquela mulher livre e sedutora que o beijara. Por que o beijara? O que ela havia visto nele? Por que tinha ido embora sem nem dizer seu nome? Porque ele não conseguia encontra-la de novo? O despertador toca, já eram 6 horas da manhã! Já?! Tudo isso de tempo já havia se passado?! Com dor de cabeça, ele se levantou e foi tomar um banho.
 Henrique só foi capaz de perceber que alguma coisa estava realmente errada com ele quando passou o condicionador no cabelo antes do shampoo. Depois deixou o sabonete cair inúmeras vezes no chão. “O que está havendo comigo hoje?!”- pensava enquanto achava graça em tudo aquilo. Na hora em que foi fazer a barba, sua mão tremeu tanto que acabou fazendo vários cortes em seu rosto.

Enquanto limpava o sangue do último corte de sua barba, Henrique se olhou no espelho por alguns instantes. Encarou com bastante atenção a sua figura cheia de curativos no rosto e com olheiras pela noite não dormida. Começou a rir de si mesmo, quase gargalhando. Foi invadido por uma felicidade tamanha , e mesmo sem saber de onde tal felicidade se originara, dançou e cantou pelo banheiro.