Talvez fosse apenas mais um dia comum, um daqueles dias em que se sabe exatamente como começa e como termina. Por que é sempre tudo igual. Apesar de existirem pequenas surpresas da vida, como ganhar algo novo ou encontrar alguém que não vemos há tempos, na maioria das vezes, isso não afeta o nosso cotidiano e continuamos seguindo a nossa vida, dia após dia. Porém, é certo que existe um dia, um único dia somente, em que algo acontece, e esse algo,por menor que seja, muda nossa percepção de vida para sempre. Mas como saber?
Se eu tivesse ido à um restaurante, ao cinema ou simplesmente ido à qualquer outro lugar que não envolvesse aquela rua naquele exato horário, eu jamais o teria visto, deitado naquele chão, com sangue em toda a parte. Eu não teria tentando acordá-lo para saber se ainda estava vivo e muito menos ouvido a sua resposta. Eu não o levaria à minha casa e não teria passado minha madrugada pesquisando como poderia ajudá-lo, já que ele implorava para que eu não o levasse à um hospital. Talvez nunca tivesse sentido tanto medo em minha vida e tanta dúvida, sem saber se o que estava fazendo era certo ou errado.
Naquele momento, porém, apesar dos medos e das incertezas que sentia, minha preocupação maior era que ele não morresse. Se eu fosse médica, ou tivesse estudado algo nessa área, talvez tivesse mais certeza sobre seu estado de saúde, mas eu não sabia nada. Apenas olhava-o, enquanto limpava aqueles cortes em seu corpo, procurando em mim mesma uma resposta para minha própria pergunta.
- Jogue álcool...não água.
Ele murmurou com certa dificuldade, mas não demorei a obedece-lo. Corri para a cozinha e peguei um vidro de álcool. Molhei um pano e passei pelas feridas. Ele parecia não sentir nada, seu rosto se contorceu levemente, mais nada.
- E agora? - perguntei com certa esperança dele ainda estar acordado.
- Feche...todos eles. - murmurou, agora com um pouco mais de firmeza na voz.
Eu olhei para os lados, pensei nas janelas,mas elas já estavam fechadas, ao que ele se referia?
- Todos eles...eles quem?
-Ferimentos!
Uma resposta tão óbvia!Me senti totalmente envergonhada! Peguei as gazes que estavam do meu lado,e fui fechando um a um. Eram tantos cortes. Será que ele havia sofrido uma tentativa de assalto, reagiu e levou a pior? Talvez eu devesse perguntar, ou seria muito ruim para ele me responder naquele estado? Ao menos um detalhe eu fazia questão de saber!
- Qual o seu nome?
Mas ele não me respondeu, havia voltado a dormir.